segunda-feira, 23 de maio de 2011

«Diz não à discriminação», texto da Carolina Rato

A Carolina Rato do 7º A  leu este texto no encontro com Manuela Mota Ribeiro:





«Não estás sozinho



Estava um dia de sol resplandecente, então, decidi telefonar aos meus amigos e propor-lhes um passeio. A ideia soava excelente, no entanto, todos tinham planos. Maria ia acampar com os primos, Joana ia às compras e João ia dar um passeio com os pais.

Entretive-me a ver TV todo o dia, até que houve uma notícia que me chocou bastante:


Foi hoje que, infelizmente, houve um acidente local. O acidente ocorreu por volta das dez horas, junto à estação de comboios.

Uma família não reparou que se aproximava um comboio, então… o carro simplesmente ficou esmagado.

Houve duas mortes e um ferido grave que foi imediatamente levado para o hospital.

Não sabemos como se encontra a vítima, mas esperamos notícias.

Até aqui, nada de especial… no entanto, à medida que tomava mais atenção às imagens apresentadas, apercebi-me de que não se tratava de um simples carro. Eu conhecia aquele carro. Conhecia de cor a matrícula, a cor dos estofos, o ronronar do motor… e os proprietários. Era o carro do João, um dos meus melhores amigos!

Através da descrição dada pelo locutor, dava a entender que ele era o ferido. Fiquei triste por ele. Afinal de contas, os pais que ele tanto adorava tinham morrido e ele nunca mais ia ser o rapaz alegre do costume. É claro que podia recuperar fisicamente, mas por outro lado podia ficar numa cadeira de rodas… levar com um comboio em cima não é brincadeira nenhuma! Ele ia ficar devastado… Por enquanto, estava em coma, mas quando acordasse ia ficar mal.

Apanhei um táxi (depois do sucedido, jamais iria apanhar o comboio!), e dirigi-me rapidamente para o hospital. Entrei pelas portas rapidamente, dirigi-me ao balcão:

- João… hum… - não me conseguia recordar do apelido. – Aquele que teve um acidente de comboio!

- Hum… ah… interessante. Só podemos deixar entrar familiares. Por acaso é da família? – perguntou a funcionária com um tom de voz irritante.

Achei por bem dizer que sim, queria muito entrar… por isso, eu era “prima direita” dele.

Estava em coma, e só me deixaram ficar durante cinco minutos. Cinco minutos. Como se isso fosse alguma coisa na infinidade de tempo que me restava! Não me deixaram entrar mais, até passar uma semana… ele tinha lesões graves na perna. Lesões irreparáveis. Tinham de lhe amputar as perna.

A notícia foi um choque. No entanto, os amigos iam estar lá para apoiá-lo. Os verdadeiros amigos. E… ao que parece ele não tinha muitos.

Teve alta no hospital passada uma semana. Era suposto estarmos todos à porta do hospital para o recebermos de forma a alegrá-lo minimamente.

No entanto, a única pessoa que apareceu fui eu. EU. Ou seja, os outros, no momento em que João mais precisava, não estavam lá. Que belos amigos…

Saiu pela porta lateral e deu imediatamente de caras comigo.

- Olá… - disse eu.

- Levas-me ao metro? Sabes, parece que vou ter algumas dificuldades a descer as escadas…

- Apanhamos um táxi.

No dia seguinte, fui buscá-lo a casa e fomos juntos para a escola, sem pronunciar uma palavra.

Ele era muito mais forte do que eu alguma vez pensara. Ele suportou todos os olhares, todos os comentários, piadas de mau gosto… tudo aquilo que lhe podiam ter feito de mau, fizeram. No entanto, ele suportou. Se nada se tivesse alterado, ele ter-se-ia passado e os outros iriam arrepender-se de se terem metido com ele. Agora, ele tinha plena noção de que tinha que adoptar outra estratégia.

Ele suportou tudo isso daqueles que não conhecia de lado nenhum. Esperava ter alguém em quem pudesse confiar.

Dirigimo-nos para o nosso grupo de amigos e fomos recebidos de forma… desagradável.

- Vão-se embora. Ele vai de certeza! Não queremos ser vistos com pernetas. Mas tu… contigo é diferente, carolina, tu estás à nossa altura. Ficas com ele… ou connosco?

Respirei fundo, acalmei-me e respondi:

- Vocês são tão incrivelmente cegos que ainda não perceberam que ninguém vos suporta. E é por isso mesmo que vão acabar sozinhos nesse mundo feito de orgulho que vocês mesmos criaram. Já agora… eu estou bem à vossa altura. Mas vocês nem sonhem que estão à minha altura e muito menos à do João. Quem vos dera! E sim, eu não quero ficar com vocês e escusam de me voltar a falar. Perceberam ou querem um desenho?!

Dei meia volta juntamente com o meu amigo e fomos para a aula.

João enfrentou-os. Enfrentou as perguntas, os olhares, os risos, os sentimentos de “pena”… durante um mês.

No fim desse mês, disse-me:

- Não consigo ir mais à escola. Todos os dias se riem de mim. Odeio-os! Odeio-me!

Aquilo não era fácil para ele, por isso disse-lhe o que pensava:

- É verdade que a tua vida não é perfeita. Nenhuma é! No entanto, percebe uma coisa: não estás sozinho… eu estou aqui a apoiar-te. Juntos, vamos dar a volta por cima.

Os anos foram passando e as feridas de João foram sarando.

Nada o parava… pelo contrário: ele transformava a raiva que sentia pelas pessoas em coisas positivas, em coragem. Então… tornou-se médico, um cirurgião brilhante, que todas as pessoas queriam conhecer.

Luta contra a discriminação


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